No dia do leitor, uma reflexão sobre o hábito da leitura.
“Eu costumava ler o tempo todo quando era mais jovem, mas não leio um livro há anos.” Declaração de uma leitora da chamada geração millenials nascidos entre o final dos anos 1980 e os anos 2000. Essa geração costumava ler, mas agora tem dificuldade para se concentrar em um livro por mais de alguns minutos. Eles sentem que todos da idade deles não conseguem mais ler por prazer. Todos se recordam de devorar livros no ensino médio, mas de alguma forma essa magia acabou. Por que isso aconteceu?
Uma desculpa comum é simplesmente não ter mais tempo. Na juventude, eles gastavam horas sentados na biblioteca lendo. Agora, com o trabalho, as tarefas de casa, filhos e outras responsabilidades, ler parece uma perda de tempo. No entanto, essa insistência na desculpa pela falta de tempo tem uma falha gritante: Todos nós sabemos que todos gastam hoje muito tempo rolando a tela do seu smartphone. Por que eles não usam esse tempo para ler?
O culpado mais óbvio são as mídias sociais. A capacidade de atenção dos jovens (e aqueles já nem tão jovens nascidos na primeira metade dos anos 80) está diminuindo à medida que se tornam dependentes de aplicativos e sites como o X (o antigo Twitter), e TikTok ou Instagram para preencher o tempo livre.
O modelo de negócios dessas empresas é manter os usuários entretidos e rolando a tela pelo maior tempo possível, então, elas empregam inúmeras táticas psicológicas para incentivar as pessoas a ficarem o maior tempo possível no aplicativo.
Hoje em dia é instintivo, os jovens pegam o smartphone assim que entendem que estão com um tempo disponível. Quase ninguém mais lembra de pegar um livro abrindo mão desse universo dos smartphones. A mídia social é fácil, ler requer atenção, e quando eles chegam em casa cansados após um dia de trabalho, a atração do entretenimento fácil e garantido da mídia social sempre prevalece! Mesmo quando eles não estão cansados, evitam a leitura, apesar das memórias agradáveis dos seus hábitos de leitura anteriores. Uma desculpa comum é que talvez isso aconteça por pensarem que não é possível obter nada tangível lendo um livro.
Muitos dizem também que são forçados ou levados a ler livros nos quais não têm interesse. Porém, ler pode não produzir um produto tangível, mas abre um universo de possibilidades; no entanto, talvez estejamos coletivamente obcecados demais com produtos tangíveis.
Em nossa cultura, um hobby não pode ser apenas um hobby, ele deve ser monetizado em uma "atividade paralela". Nós elogiamos constantemente as pessoas que acordam às cinco da manhã e planejam seu dia com precisão de minuto a minuto, até não sobrar mais tempo livre.
Parece banal dizer que ler nos torna mais inteligentes, mas ler pode realmente ajudar a mudar nossa perspectiva. Ler obras de ficção pode mudar aspectos da nossa personalidade e nos ajudar a nos tornarmos mais inteligentes emocionalmente.
A humanidade já viveu desafios parecidos com a popularização do rádio e depois da televisão no século XX e os livros sobreviveram a tudo isso. É certo que agora temos o desafio de nos adaptar a novos formatos já que hoje temos opções de leitura em mídias quase tão confortáveis como o livro em papel que está lentamente caindo em desuso. Os tablets e os Kindles estão tomando, pouco a pouco, o lugar dos livros em papel. Porém, em 2022 uma pesquisa realizada em 8 paises (EUA, Inglaterra, Alemanha, Índia, Canada, África do Sul, França e Austrália) mostra que 57% dos livros vendidos ainda são em papel, 20% são vendidos via Kindle, 12% ebooks e 8% audiobooks (Fonte: THGM book – readers survey). De qualquer forma, o que importa é o conteúdo, não é mesmo?
Como dizia um famoso filósofo brasileiro:
“A base da formação cultural é a extensa compreensão atenta da literatura, pois esta é uma maneira de amadurecer a visão da realidade. A leitura atenta é aquela que leva o indivíduo a incorporar, no centro da sua existência, as sutilezas e as possibilidades da experiência humana, narradas exemplarmente nas obras literárias. Qualquer pessoa que já tenha lido um bom romance teve a experiência de sair, por um momento, das formas convencionais de expressar a vida humana. Nós jamais conseguimos ver além do nosso horizonte de consciência. Se esse horizonte for limitado, é muito provável que, em algum momento, o indivíduo se sinta mal por não compreender a si mesmo, o que acontece ao seu redor, ou não compreender as pessoas para além do que elas lhe aparentam. Por isso, temos que ampliar a nossa imaginação através da absorção da boa literatura e aumentar a nossa capacidade de perceber, expressar e comunicar a experiência humana. É como atravessar um caminho: quem pedala uma bicicleta compreende o trajeto muito melhor do que quem dirige um carro, porque ver tudo passar rapidamente pela janela não é o mesmo que realmente conhecer o percurso." (Grifos nossos)
Por Marcos Ferreira
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