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Quando acumular é considerado um transtorno?

Por Lívia Borges



Você conhece alguém que acumule objetos? Já viu uma casa cheia de animais que você não consegue nem entrar? Você já colecionou algo ou conhece alguém? Provavelmente sim. Mas quando acumular é considerado um transtorno?


Este mês conversamos com a Tv Brasília sobre o Transtorno de Acumulação. Muitas pessoas sofrem isoladas, aprisionadas em comportamentos, crenças e pensamentos disfuncionais.


A 5a edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) classificou a acumulação como um transtorno independente.


Veja abaixo os critérios diagnósticos:

A. Dificuldade persistente de descartar ou se desfazer de pertences, independentemente do seu valor real.

B. Essa dificuldade se deve a uma necessidade percebida de guardar os itens e ao sofrimento associado a descartá-los.

C. A dificuldade de descartar os pertences resulta na acumulação de itens que congestionam e obstruem as áreas em uso e comprometem substancialmente o uso pretendido. Se as áreas de estar não estão obstruídas, é somente devido a intervenções de outras pessoas (p. ex., membros da família, funcionários de limpeza, autoridades).

D. A acumulação causa sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (incluindo a manutenção de um ambiente seguro para si e para os outros).

E. A acumulação não se deve a outra condição médica (p. ex., lesão cerebral, doença cerebrovascular, síndrome de Prader-Willi).

F. A acumulação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., obsessões no transtorno obsessivo-compulsivo, energia reduzida no transtorno depressivo maior, delírios na esquizofrenia ou outro transtorno psicótico, déficits cognitivos no transtorno neurocognitivo maior, interesses restritos no transtorno do espectro autista).


Destacamos que simplesmente colecionar objetos não é considerado transtorno.


Veja algumas diferenças:

Um colecionador seleciona objetos por temas ou categoria, onde há um limite e coesão. No transtorno não há limite, coerência ou coesão temática, exceto nos casos em que decorre de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Um colecionador cuida, limpa, organiza e tem orgulho de mostrar sua coleção. Um acumulador não consegue cuidar, limpar ou organizar, pela simples razão de estarem entulhados ou pela falta de energia, como nos quadros depressivos. Um acumulador sente vergonha de sua bagunça e, em geral, isola-se do convívio social. Já um colecionador, se relaciona bem.


Acumuladores não conseguem organizar seus objetos e guardam qualquer coisa atribuindo um possível valor ou utilidade futura. Têm dificuldade de tomada de decisão e em administrar a ansiedade. Minimizam a situação e preferem esconder. Raramente buscam tratamento. Os familiares e conhecidos percebem o problema e nem sempre sabem como ajudar. Radicalizar fazendo a limpeza nem sempre é a solução. Pode desorganizar ainda mais o emocional do acumulador. Em outros casos, o acumulador até se sente aliviado quando obtém ajuda. Não conseguem fazer sozinhos, principalmente nos casos em que decorre de depressão.


Existem gradações no comportamento e variedade no tipo de entulho e nas justificativas para guardar. O nível de sofrimento pode ser em razão da falta de espaço na casa, ou em razão dos pensamentos intrusivos, como no caso da acumulação decorrente de TOC, dentre outros. A faixa etária também é variável, mas com o passar dos anos tende a se agravar.


Idosos podem acumular objetos ou animais, perdendo o bom-senso, pelo exagero que os leva a uma condição perigosa, insalubre, com risco de quedas e doenças. Muitas vezes compensam situações de vazio, ansiedade, depressão, confusão mental, criando uma identificação com os objetos acumulados ou achando que possuem uma responsabilidade desproporcional à sua possibilidade ou utilidade relevante, do qual precisam ser guardiões. Ao mesmo tempo que sentem conforto em possuí-los, sofrem as consequências da falta de espaço, mas não conseguem se desapegar.


Condição genética, fatores ambientais, personalidade, situações traumáticas, podem estar entre as causas da acumulação.

Importante buscar ajuda profissional.


Brasília, 2020.

Lívia Borges, Psicóloga clínica com especialização em psicossomática junguiana e mestrado em ciência política.


DESCRIÇÃO DA IMAGEM: A imagem apresenta um ambiente bagunçado, sujo, com prateleiras entulhadas de objetos variados e três gavetas, estando a do meio entreaberta. Há uma sobreposição de imagem no canto superior esquerdo apresentando um monte de selos. Há outra sobreposição de imagem com vários cachorros no canto inferior direito.

Também no canto inferior direito da imagem, em menor proporção, está a logomarca da Pró-Consciência, que é o desenho de um neurônio azul entre os escritos em branco pró e consciência e o ® de marca registrada.


A imagem é uma montagem de três diferentes imagens de Deedee86, Dorota Kudyba e Severyanka por Pixabay.



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