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De volta às aulas presenciais na pandemia. Nossa opção.

Atualizado: 14 de out. de 2020

Por Lívia Borges


Gosto do que me emociona. De gente de verdade, que tenta, erra, assume, se esforça e cuida. Esta semana nossa filha voltou à escola. Se alguém me perguntasse há alguns meses se autorizaria seu retorno às aulas presenciais, a resposta seria não. Com o tempo, a loucura das lives escolares, teletrabalho, dupla ou tripla jornada, você descobre os benefícios e malefícios do isolamento para si e para os outros. Se adicionarmos a questão da inclusão, as lives se mostraram, em sua maioria, improdutivas, desestimulantes e excludentes. Mas, tudo passa. Ficam os aprendizados e as marcas.


Refleti sobre a profundidade de algumas consequências. Vi a solidão pela falta dos amigos da mesma faixa etária, que já eram poucos. Notei o cerceamento da liberdade de brincar no parquinho, abraçar e frenquentar a escola surgirem no olhar de minha filha como apelo para voltar a minha barriga. Um local seguro, conhecido, cheio de aconchego e amor. Apertado e escuro, é claro! Neste momento, para ela, isso pouco importava. Emoções misturadas, desconhecidas e adolescência à porta. Um pedido de socorro! O vírus passou a ser coadjuvante. Afinal, ameaças subjetivas também nos adoecem e destroem.



O fato de que nossa filha lidou muito bem, respeitando as regras, cobrando-nos quando esquecíamos de alguma delas, não diminuía os danos que se tornaram visíveis. Ela estava sofrendo, sentindo-se incapaz de extravasar todas as sensações e de entender as lives. Sua autoconfiança ficou abalada. Essa falta de inclusão feriu sua autoestima de muitas formas. Seu olhar começou a ficar distante, a mostrar-se ora agressiva, ora apegada... e passou a buscar compulsivamente o prazer imediato nos vídeos do YouTube e desenhos na Tv. Natural, ninguém quer sofrer. Mudamos o que foi possível na rotina para trazer novidades e satisfação.


Quando surgiu a possibilidade do retorno, estávamos de comum acordo sobre o que seria melhor para ela. Perguntamos se ela desejava voltar, respondeu que sim. Arrumamos tudo, cientes do novo estresse de horários, mas otimistas. Vimos a felicidade voltar com seus inevitáveis desafios. Estávamos unidos para enfrentá-los.


Ninguém tem certeza de nada, mas muitos estão imbuídos da vontade de fazer o melhor. Sabemos das críticas que ouviremos, conhecemos o terrorismo das ideologias e também das atitudes inconsequentes. Os extremos não nos seduzem. Os cuidados continuam. E as variáveis são muitas. O que me emocionou foi ver o cuidado com cada criança, cada família, cada pessoa. Não era mais cada um por si. Todos importam! Brisas do amor incondicional que sempre senti ali no portão à espera para receber os filhos após as aulas. A diferença? O amor não era mais somente da família e sim também de cada profissional, da recepção na fila de carros, até a sala de aula. Não sabemos o que vai resultar, mas só por este instante de amor expandido, sei que está valendo a pena.

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Lívia Borges

Psicóloga e mãe de Luana Abhayomi, uma YouTuber com Síndrome de Down.

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