por Lívia Borges
Emoção é movimento. Escolher o que fazer com ela pode ser um diferencial em nossa saúde. Doenças contam histórias de emoções silenciadas. Quando alguém fala, libera, liberta. Pode-se falar de muitas maneiras. Podemos usar movimento, cores, formas, palavras, sons etc. Mas precisamos falar.
Ninguém precisa se envergonhar do que sente. Não é preciso julgar. Julgar produz conflito desnecessário e nos diminui diante de nós mesmos. Precisamos apenas observar e deixar o sentimento seguir seu curso como um rio que deságua no mar. É preciso despender muita força para erigir uma barreira capaz de conter um rio. Seria mais inteligente definir consistentemente as margens. A fluidez da água ensina a maleabilidade interna, e a cor revela os diversos momentos de um mesmo rio. Ao final, tudo passa e se renova. A água se torna limpa outra vez.
Nossas margens podem definir os limites da ação para que nossas escolhas se harmonizem com nossos valores. Uma coisa é sentir, outra é o que fazemos com os nossos sentimentos. A culpa represa as águas do rio. Contém o movimento, aprisiona a mente e o coração. Revive o passado no lugar de se comprometer com o presente. O arrependimento consciente e comprometido libera o fluxo da vida para novas escolhas. Assumir as próprias escolhas e não repetir os erros, isso é o que se chama “princípio da austeridade” como dito pelo filósofo não-dualista Sri Nisargadatta Marahaj, o inverso disso é a indulgência.
Essa austeridade inclui o cuidado de falar sem reproduções superficiais de eventos ocorridos a título de vitimizar-se. Não há nada de errado em desejar atenção, aceitação e amor, mas é preferível buscá-los de maneira mais adequada e eficaz.
Jung ressaltava a importância da confissão no processo terapêutico. É a primeira fase da psicoterapia junguiana. O conteúdo que está guardado, escondido e não assumido é confessado ao terapeuta. Confessar leva a pessoa a aceitar também as águas obscuras na totalidade de seu rio, que passam a ser percebidas conscientemente e aceitas.
Para mim, o versículo abaixo exemplifica princípios de psicossomática:
"Confessai, pois os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tg 5:16)
Podemos confessar às pessoas envolvidas na situação, a um amigo leal, a um terapeuta ou religioso de confiança. Podemos falar tudo o que não tivemos coragem ou oportunidade até para quem já não está mais conosco, basta escrever ou falar em forma de oração. Isso nos alivia. Também quando oramos pelos outros tiramos o foco de nossas dores. As benesses são mútuas.
A oração põe em movimento a fonte interior de onde nascem os rios... faz jorrar nova vida, renova os ânimos, sintoniza, purifica as águas estagnadas, elimina barreiras, redireciona o curso. A fonte interior pode ser a íntegra presença da pessoa no centro de si mesma e não mais o que ela idealiza nem as expectativas alheias que acha que precisa atender para ser amada. Ali, na fonte, o amor flui sem exigências e partindo desse amor, podemos suportar as perdas, idealizações e os amores frustrados.
Por íntegra presença entendo a essência humana e divina, e não o estreito egoísmo de nosso cotidiano. Isso sim é poder real, ocupar o lugar devido dentro de nós mesmos.
“Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?( I Cor 3,16)
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Autora: Lívia Borges, M.Sc - psicóloga com especialidade em psicossomática, autora do livro ALMA DE GUERREIRO – Transformar, servir e liderar como fonte de poder e cura. Ed. Thesaurus, 2006. Site: www.proconsciencia.com.br
Autorizo a reprodução do texto desde que mantido na íntegra e com a especificação da fonte e autoria.
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