Por Lívia Borges
Quando nossa fragilidade humana é exposta, as incertezas avançam sobre a mente de maneira consciente. Não são novas. Apenas estavam esquecidas sob o manto da normalidade e da pseudo-estabilidade da vida cotidiana. Somos forçados a sair do conforto da rotina e de certa segurança que até nem valorizávamos tanto.
Ficamos a sós diante do que somos, sentimos e priorizamos. Esta é a nossa verdade. Não a que cremos, exibimos ou ansiamos. O que fazer, então? O ambiente externo foi reduzido à intimidade do lar. A convivência, restrita. Estamos sem as desculpas costumeiras. Que momento ímpar!
Mas há um inimigo externo invisível, comum a todos a quem poderíamos responsabilizar. Então, nos ocupamos novamente com toda sorte de informações trazendo-o constantemente em nossas mentes. E o tempo pode passar sem proveito. Aí, surge a necessidade da autogestão. Além dos cuidados sobre higiene, isolamento, alimentação e rotina criativa, e da atenção aos que não têm as mesmas condições, esse tempo pode ser precioso para questionarmos o que efetivamente somos.
Filosofia, ciência e religião trazem muitos elementos interessantes, sugerindo respostas, ora conflitantes ora complementares. Siga a pergunta ou a resposta que ecoar em você, gerando vida, força e experiência pessoal. Mesmo sutil, está ali, requerendo somente o tempo que você já tem e o isolamento em que já está. No mais, é continuidade.
Existem ganhos possíveis? Sempre. Olhe para dentro. Ultrapasse o medo da finitude, das dores e perdas. Há um manancial de vida à espera de ser reconhecido. Então, não esteja sempre ocupado, permita-se ter momentos para desfrutar o silêncio, meditação, oração, reflexão, como preferir.
O tempo que antes você não tinha, chegou. Tempo para o essencial.
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Lívia Borges - Psicóloga e escritora
Texto originalmente publicado no Jornal de Brasília, coluna Opinião, p. 12, de 31/mar/2020.
Foto de abertura by Nile.
Estou me debruçando na filosofia e também na ciência- de fato as respostas são muito conflitantes! Continuo a busca!! Este momento me angustia muito! O sofrimento do “outro”, ainda que eu não presencie diretamente, seja pela perda de um ente, seja pelas necessidades básicas não supridas, me afeta!