Por Lívia Borges
É tudo tão simples! Corremos o mundo atrás de erudição e aprimoramento, enquanto a sabedoria caminha descalça ao nosso lado, esperando o desapego de nossas vaidades. Esta Páscoa foi diferente para todos. Reclusos, não nos ocupamos com os deliciosos chocolates, substitutos do real significado da Páscoa. Que privilégio e desafio sair da mesmice! Em casa celebramos com os atos próprios de nossa fé, diga-se de passagem, variados, pois a diversidade religiosa e o respeito, nem sempre fácil, predominam em nossa família. Fizemos um brinde com o vinho de romã trazido de Israel, das imediações do Rio Jordão. Não poderia ser tomado em ocasião mais especial. Relembramos alguns momentos preciosos da inesquecível viagem em janeiro passado. Não voltamos os mesmos. Encontramos o Jesus humano pelas ruas de Jerusalém. Cada palmo daquele chão revela a história da ignorância humana e a aproximação do divino em diferentes eras.
Séculos testemunharam o erigir de templos, sinagogas, mesquitas e igrejas, revezando-se a custa de sangue e destruição. Era a busca por algo superior, transcendente, quando o coração e a mente ainda não estavam preparados para tamanho salto. Assim, surgiram superstições, dogmas, fantasia de superioridade e guerras para manter a supremacia do meu versus o seu, perpetuando a dominação dos eleitos. Quantas mortes desnecessárias antes e depois de Cristo.
Com o vinho aerando na taça, refleti sobre a capacidade humana de transformar em pecado gestos simples, naturais, praticados moderadamente, inclusive por Jesus, e sobre a dissimulação ante o que realmente é nocivo, para justificar sua prática. Como somos tendenciosos em julgamentos e motivações! Nosso ego governa, quando deveria apenas testemunhar. O desconhecimento da verdade torna-se o paraíso para teorias e justificativas.
Visitamos inúmeros lugares sagrados daquela Terra Santa. Primeiro, avistamos do mirante a cidade antiga de Jerusalém, onde fizemos um brinde à Israel, à paz e à harmonia entre as religiões, com um vinho especial de tâmara, sem álcool. Depois seguimos pelos lugares onde Jesus passou. Aos poucos vamos compartilhar. Peregrinar deveria ser um dever, mesmo para quem é agnóstico ou ateu, pois poderia se beneficiar com a história e com as inquestionáveis vibrações de tudo que ali se passou. O fato é que voltamos mais simples, despidos dos excessos que reduziram a espiritualidade a uma colcha de regrinhas intermináveis de estilos, práticas, receitas e dietas. Deus é simples, possui a simplicidade arrebatadora do amor, não precisa muita explicação. Deus é! ___
Lívia Borges - psicóloga, mestre em Ciência Política, co-fundadora do Centro de Vedanta de Brasília
Excelente reflexão Livia!!