Por Lívia Borges
Há sutilezas na maternidade. Curiosamente, superam a poesia dos tempos e a obviedade das mudanças externas. A barriga tem seus poderes. É capaz de esnobar o clamor pela ausência de barriga ou pela barriga tanquinho, enxuta ou qualquer outro modelo. Pode desfilar à vontade. Não precisa fazer tipo, nem encolher os excessos da anatomia ou empinar a alegria da retaguarda. Barriga de grávida atrai olhares. Talvez ávidos por saber quem é o pai, se foi bom, ou se é gravidez mesmo. E sempre pode ser outra coisa.
Confirmada a gestação surge o sorriso, perguntas sobre quantos meses, para quando é, se é menino ou menina, se é o primeiro. Mas o detalhe é a mão, todos passam a mão. Bem... só o pai e as crianças têm o privilégio de beijá-la. Sem dúvida é um poder de atração, uma permissão, até então não concedida. Quem vai maliciar o contato de uma mão acarinhando o fruto da maternidade no corpo feminino?
O poder de gerar transcende realidades, e é também poder de transformação. Transforma o olhar enciumado de outras mulheres por seus homens, diante da beleza de uma mulher, em instantânea simpatia. Ah!... você está grávida! Há um alívio imediato. Grávida não ameaça, pelo menos não sugere a lascívia peculiar da natureza masculina, pressentida por suas fêmeas. Aí é possível estabelecer comunicação, mesmo que o poder da beleza trazida pela maternidade ainda possa constranger a ala feminina. Aí a competição se direciona à prole. Durante o recesso da maternidade a barriga da grávida se torna pública e a cabeça de todos ainda continua privada.
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> Dia 15 de agosto é o dia da gestante.
Lívia Borges é mãe, psicóloga e escritora
Autorizamos a reprodução do texto na íntegra, desde que preservada a autoria e a fonte.
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