Uma criança quando nasce, chega indefesa, ainda em formação biológica e psíquica, para aprender, pois ainda é incapaz de sobreviver sozinha. Com o nascimento, inicia também uma série de interações com o meio e com as pessoas, principalmente com a mãe, juntamente com o pai e demais familiares e amigos, que serão fundamentais para sua formação biopsicossocial e o desenvolvimento de seu potencial a partir dos primeiros meses de vida.
Esse desenvolvimento, embora natural, não ocorre isolado, depende da relação da criança com as pessoas. É o olhar do outro que reconhece sua humanidade e singularidade, auxiliando na construção de seu ser. Na jornada desse pequeno ser, a função da mãe é facilmente compreendida como aquela que gera, acolhe, cuida, nutri, ameniza a dor das quedas e sofrimentos, e realiza infinitas tarefas como controlar a caderneta de vacinação, a agenda de terapias, exames, tarefa escolar, dieta, higiene, roupas, mochila, lancheira, remédios e suplementos, o tempo que fica na TV, computador ou celular, etc. como se tudo isso fosse somente sua responsabilidade e como se o seu jeito de fazer fosse o melhor. Mas e a função do pai?
Culturalmente o pai era deixado de lado, ou reduzido ao papel de genitor biológico e provedor, o que foi um grande erro, pois a função do pai é também muito importante. O exercício da paternidade requer uma atuação marcante no desenvolvimento do filho, que pode ser feita de diferentes maneiras, ajustadas à realidade de cada família. Vejamos algumas:
COOPERAÇÃO - Cooperar na criação, mesmo que não more com a mãe, afinal a responsabilidade é de ambos.
LIMITES - Estabelecer limites com afetividade e autoridade ao educar o filho; dar limite no vínculo simbiótico da mãe com o filho, mostrando ao filho que ele não é exclusivo da mãe e nem a mãe é somente dele; auxiliar o filho a reconhecer suas necessidades físicas e emocionais, e os limites do próprio corpo (isso ajuda na prevenção de abusos).
HARMONIA - Estar em harmonia com a mãe ao estabelecer limites e regras, para que um não seja o "bonzinho"e o outro seja o "mau". Ambos precisam ser capazes de dar limites e afeto.
PROTEÇÃO - Proteger a criança de todo e qualquer tipo de violência psicológica, física ou sexual. Alguns exemplos de comportamentos a serem evitados: permitir a exposição indevida nas redes sociais; expor a criança à vida sexual dos adultos; não compreender os limites da criança, seu ritmo de aprendizado, sua capacidade de assimilação; impacientar-se com o tempo que o filho processa as informações e sua forma de responder aos comandos; confundir a criança com muitos comandos ao mesmo tempo; fazer pela criança o que ela mesma pode fazer; acostumar a criança a sempre dormir com a mãe, com o pai, ou com ambos; superproteger; debochar da criança quando ela erra ou desobedece; falar mal da mãe ou impedir a convivência com ela; se relacionar com o filho apenas em atividades de lazer e esportivas; falar sem olhar para o filho, sempre dividindo a atenção com outra coisa. Esses são exemplos que prejudicam o desenvolvimento.
CONFIANÇA - Estabelecer uma relação de confiança com o filho; auxiliá-lo a confiar em si mesmo e a desenvolver valores espirituais.
A seguir, uma perspectiva resumida dos diferentes pais, com base na psicanálise:
PAI REAL - o pai biológico ou adotivo, humano, falível, com todas as características reais e não as fantasiadas pelo filho, nem as construídas por sua mãe. Aceitar o pai real ajuda o filho a aceitar seus próprios erros.
PAI IMAGINÁRIO - o pai como a criança imagina, idealiza, sonha, em geral, o pai perfeito, herói, protetor, onipotente. Mas há também o pai que é demonizado, humilhado ou desvalorizado pela mãe, em tais casos sua imagem perante o filho passa a ser temida, indesejada ou proibida. Isso pode gerar medo e culpa nos filhos.
PAI SIMBÓLICO - é aquele que vai exercer a função paterna, podendo ser o pai biológico, adotivo ou qualquer familiar ou amigo que assuma essa função. Pode ser que viva no mesmo lar da criança ou não. Em famílias monoparentais (de pais separados, viúvos, solteiros) é possível que a mãe ou outra pessoa assuma essa função. O fato é que alguém precisa exercê-la com adequação, pois ela é fundamental para desenvolver a individualidade do filho, cujo período de dependência emocional com a mãe já não é mais necessário. Da mesma maneira, a função materna também pode ser exercida por outra pessoa. Então vemos que as funções paternas e maternas são diferentes, fundamentais e interdependentes.
Aos pais recomendamos: Jamais abra mão do privilégio de exercer a sua função!
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Por Lívia Borges, psicóloga e escritora,
mãe de uma adolescente com síndrome de Down
(Aproveita a reflexão da autora no vídeo também.)
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